Eu e minha crise de utilidade
É exatamente o que você leu no título – crise de U T I L I D A D E. Li sobre isso no livro da Fabi Bertotti (escrevi sobre ele aqui) e me vi sendo descrita ali, sobre esse negócio de se sentir útil. Sou dessas que mais do que gosta, eu preciso me sentir útil. Sempre penso que posso fazer mais, que tenho como ajudar fulano e ciclano, e por mais que eu faça ou ajude em diversas frentes diferentes, ocupo muito dos meus pensamentos pensando em como poderia fazer mais.
Muitas vezes meu marido precisa me dar um ‘stop’ porque eu quero demais ajudar alguém e ele fala, ela não quer ser ajudada, ou então, nesse assunto deixa a pessoa ‘quebrar a cara’ para aprender. E é isso, o tal ditado ‘faça o bem, não importa a quem’, pode ter várias nuances e acredito que precisamos refletir sobre isso.
Sim, concordo e defendo que temos que fazer o bem, sempre e sempre. Aprendemos isso na Bíblia em diversas passagens, mas eu gosto principalmente desse versículo aqui em Tiago 4.17, onde lemos que o que sabe fazer o bem e não o faz comete pecado. Penso que todos nós sabemos fazer o bem, sabemos fazer algo de bom para outra pessoa, seja uma oração, um abraço, uma ajuda financeira, uma ajuda para fazer algo na casa, enfim, todos podemos cumprir com essa parte de fazer o bem.
O ‘não importa a quem’, é o que quero levantar uma reflexão. Realmente não importa a quem? Se não nos importarmos a quem estamos fazendo o bem, estaremos fazendo o bem mesmo? Jesus muitas vezes ao se deparar com um doente, antes de curar perguntava ‘queres ser curado?’ ou então ‘o que queres que te faça?’. Sempre me pareceu meio óbvia essa pergunta de Jesus até o dia em que eu parei para tentar entender o motivo da pergunta, e concluí que muitas vezes a pessoa doente, que para nós deveria desejar e clamar pela cura não quer bem lá no fundo ser curada. Sim, eu imagino que como doente, ela recebe toda a atenção que precisa/quer, apoio e cuidado de todos ao seu redor, e muitas vezes inconscientemente sabe que no momento em que não estiver mais doente a vida ao redor voltará ao normal e ela não terá mais aquela atenção toda. É sério isso, mas é real, conheço pessoas assim, que a condição para ela ficar boa e bem depende muito mais dela do que qualquer coisa mas ela não faz a sua parte porque se mantém ali como vítima, porque gosta do tratamento que recebe assim, é só dar ‘ai’ que o mundo gira e tudo fica como ela quer… Mas enfim, vamos voltar ao nosso ‘fazer o bem, não importa a quem’. Jesus geralmente perguntava se a pessoa realmente queria ser curada, e assim devemos nós buscar avaliar se a pessoa realmente quer receber o nosso ‘fazer o bem’.
Não podemos ser como os governos assistencialistas que dão o peixe ao invés de ensinar a pescar, e desenvolvem uma cultura de dependência do povo, para ter todos em suas mãos. Não podemos ajudar pessoas que ficarão dependentes dessa ajuda, porque assim não estamos de fato ajudando, muitas vezes temos que não ajudar para ajudar, entende? É o tal de deixar a pessoa quebrar a cara e aprender por si só. Sofrer também nos ajuda a melhorar, amadurecer e crescer.
Também não podemos querer ajudar os outros sem sequer ajudar os que vivem com a gente, dentro da nossa casa, na nossa vizinhança, na nossa igreja. Precisamos antes ajudar os domésticos da fé, como lemos em Gálatas 6.10, ajudar os da nossa família, e depois os de fora, seja nossa família sanguínea ou nossa família espiritual. Fazer o bem a todos, em todo o tempo.
Sim, sabemos que está escrito em Mateus 6.1-4, que a mão esquerda não precisa saber o que a mão direita fez, mas penso que isso se refere muito mais no sentido de não sair por aí nos exibindo do bem que fazemos, contando como mérito, exibindo o bem que foi feito.
Vamos rever onde ajudamos e a quem ajudamos, vamos fazer como Jesus e perguntar, você quer ser ajudado mesmo?